Mas como se derruba a mata

Escrito em 19/03/2024
Jose Luis Py

Mas como se derruba a mata, conquista-se a terra, mata-se indios e produz-se riqueza no meio do ser- tão paulista?-Com coragem, trabalho e também alguma boemia, pois ninguém é de ferro. Em Araçatuba a vida noturna era movimentadíssima. Os trens da Noroeste traziam aventureiros e mundanas, fatos que amenizavam o cansaço e compensavam as dores do desbravamento.

Eram muitos os cabarés, dancings e casas de prostituição. O dinheiro corria solto. Foi famoso o dan cing da Jerónima, na avenida Rangel Pestana. Na rua XV de Novembro dançava-se na casa da Nega. Na rua General Glicério existiam dois "salões": o Fina Flor e o da suíça Ema Shemeling. E a mineira Cota tinha o mais moderno dancing da época, na rua Aquidaban. Ela construiu mais de dez casas para suas "artistas", a

maioria delas paraguaias. Haja guarania e juras de amor eterno que durassem por uma noite inteira! A polícia informa que nessa época entre 1920 e 1930-havia mais de 50 "casas de tolerância" na ainda pequena Araçatuba. Deveria ser a maior concentração de meretrício por metro quadrado e per capita do Brasil. Porém, o nosso delegado-escritor, Fabriciano Juncal, diz que o amor era livre e bom, mas ressalvava que "as orquestras eram as piores do país".

Deve ter sido fantástico viver nessa época. Juncal garante: "Se você já viu um filme de "bang-bang americano, não será dificil imaginar o aspecto da hoje chamada Cidade do Asfalto. Havia de tudo neste fin-de-mundo". Até onça! E das gulosas, pois no córrego do Lontra dois camaradas (como se chamavam os trabalhadores à época) foram comidos por uma onça, da qual não se achou nem o rastro.

Entre o trabalho que traz progresso e os percalços da violência, a boemia de certa forma "civilizava os homens. Com a boemia surgem artistas, conversas "filosóficas" e os homens vão se polindo. Outras for- ças sociais e culturais, como a religião e a educação, aprimoram o caráter e fortalecem a alma. No fluir da vida, os sertões se adoçam e um dia, como aconteceu, naturalmente a violência desaparece.

Os matadores acabam vítimas da própria violència. Foi o que aconteceu com Quinzinho Ferreira, assassinado por um desconhecido que o tocaiou quando ele chegava em casa, com um amigo, também morto na emboscada. O assassino foi José Brasilino, aquele capanga famoso. Pouco tempo depois Brasilino foi assassinado por Francisco Lameu de Castro, matador profissional, este oriundo da capangagem de dona Iria Junqueira, a Rainha do Café, que reinava em Ribeirão Preto.