É preciso entender esses acontecimentos sem julgamento apressado. Não eram uma "barbarie", mas o reflexo do progresso como era entendido então: a todo custo e sem muito planejamento. Fabriciano Jun- cal, que foi delegado em Araçatuba por cinco anos, chega a afirmar que da mesma forma como Portugal mandou para o Brasil degredados e bandidos, as autoridades de São Paulo também mandaram a escoria social para a nova região que ia se abrindo.
Evidentemente que não foi só isso: toda frente agricola ou região alvo de expansão economica,
como foi Araçatuba na época, com o algodão, o café, a pecuária e principalmente os trilhos da Noroeste,
além de aventureiros e aproveitadores, atraía também gente de espírito pioneiro, ávida por progredir na
vida e em busca de novas oportunidades. Assim, conviveram nos primeiros tempos de Araçatuba, de um lado, inescrupulosos e bandidos e, de outro, familias de gente digna e trabalhadora, que souberam enfrentar a dureza do sertão. Com o tempo e o correr da história, a lei e a ordem prevaleceram.
Mas não foi fácil expulsar os bandidos. Por exemplo, as rixas entre os primeiros habitantes ás vezes culminavam em assassinatos, principalmente quando as disputas políticas se agravaram. Em 1924 aconte ceu a revolução liderada por Isidoro Dias Lopes, o que aumentou ainda mais as divergências políticas na em Araçatubatégicos do governo estadual, a policia foi chamada para a capital. Para "manter a ordem" em Araçatuba combinou-se que o policiamento seria feito alternadamente pelos dois grupos políticos existentes na cidade.
Assim foi. Mas um dia, na praça Rui Barbosa, o dr. Jacinto de Barros foi ofendido por Manoel Ferrei ra Damião, que tentou feri-lo a bengaladas. Jacinto sacou do revolver e atirou, ferindo Damião no pescoço. Damião foi levado a uma farmácia e recebeu os primeiros socorros,
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Enquanto as duas Câmaras se hostilizavam, um novo crime abalou Araçatuba. Um cidadão conheci do como Guerrinha foi assassinado dentro do cinema. O crime foi logo resolvido: o delegado Juncal sus peitou de um sujeito e o prendeu. Talvez, por ter sido torturado, o prisioneiro denunciou o patrão como mandante. O criminoso foi preso, julgado e absolvido. Um ano depois foi assassinado em Birigui e nunca se descobriu quem o matou. Assim se "fazia a justiça".
Não bastassem os crimes por cobiça, passionais e políticos, aconteceram também crimes movidos pela loucura. Ainda em 1925, Faustino, um "velho morador" do Largo São Joaquim, estava cortando lenha no quintal quando ouviu disparos e gritos dentro da sua casa. Foi ver o que estava acontecendo e encontrou o genro com um revolver na mão, alucinado. Sem motivo aparente tinha matado a esposa e ferido a sogra. O velho, que empunhava um machado, num impulso atacou o genro, arrebentando-lhe a cabeça, matando-o na hora.
Enquanto isso Araçatuba convivia com suas duas Câmaras Já era 1927, quando o coronel Guilherme de Souza convocou o delegado Juncal e pediu-lhe que prendesse o prefeito José Gomes do Amaral e todos os vereadores, que tinham sido eleitos fraudulentamente. Juncal se recusou, renunciou ao cargo e sugeriu ao coronel Guilherme que nomeasse um novo delegado e o mandasse "fazer o serviço",
O novo delegado, por sinal empregado do coronel Guilherme, prendeu os desafetos e obrigou o juiz de direito a lavrar outra ata, dando posse aos que foram "esbulhados" anteriormente. Isso feito, Marques Prazeres, carcereiro, ofendeu o prefeito preso, José Gomes do Amaral, "proeza que lhe custou a vida". Para que tudo fosse legalizado os presos e depostos assinaram a renúncia e a "paz" voltou: Araçatuba agora tinha uma só Câmara Municipal, sob a influência do coronel Guilherme.
Fonte Araçatua 100 Anos de História Unisalesiano