Em 1913 construiu- se uma estação ferroviária de tábuas

Escrito em 19/03/2024
Jose Luis Py

Em 1913 construiu- se uma estação ferroviária de tábuas, sinal de grande progresso em Araçatuba Existiam armazéns, residências e muitos hotéis, quase todos de madeira. Hotéis e botecos, ainda sem luz elétrica, ilumina dos por lampiões fuma rentos, davam um toque de civilização em Araçatuba.

A cidade era "pião" e atraia desbravadores e aventureiros. As terras iam sendo divididas e loteadas. Formavam-se os primeiros sitios e as derrubadas abriam espaço para as grandes fazendas.

O trabalho era duro. Fabriciano Juncal chegou a Araçatuba em 1912, para inaugurar um armazém que abasteceria os ferroviários da Noroeste. No seu livro A verdadeira história de Araçatuba, publicado em 1974, ele conta como foram os primeiros tempos. Diz ele e os antigos moradores confirmam- que a grande preocupação inicial eram os indios caingangues.

Um dos inúmeros confrontos com os indios culminou com a chacina da Reta Grande, Os relatos são divergentes, porém o mais provável é que os caingangues se irritaram com os lenhadores que derrubavam suas matas. Capturaram dois deles (alguns dizem que foram quatro), portugueses, que levaram para a aldeia e mataram. Depois teriam espetado as cabeças em estacas e festejado durante vários dias, dançando em volta e bebendo cachaça.

Esses lenhadores cortavam madeira para a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. O engenheiro da ferrovia, Manuel Guimarães Carneiro, então contratou um brugueiro - o matador de indio, figura comum no sertão de Araçatuba na época para "espantar" os caingangues. Ele era Joaquim Barbosa de Morais, que com a ajuda de outro brugueiro, "o famoso João Pedro", reuniu 28 capangas, "todos pagos pela NOB e entrou pela mata, caçando indios. Fizeram uma chacina, festejada pelo povo. A matança foi denunciada por frei Boaventura de Santa Cruz, que disse que os brugueiros the mostraram mãos e orelhas cortadas pelos matadores como se fossem extraídas das vítimas do massacre". O frei também disse que os indios estavam desarmados. Não houve sobreviventes na aldeia caingangue. Por causa dessa chacina, Joaquim Barbosa foi preso e mandado para o Rio de Janeiro.
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Em outro confronto, em 29 de agosto de 1911, "no km 281, apenas 600 metros além da estação de Araçatuba, os indios, as 14 horas, trucidaram uma turma de trabalhadores que, sob a direção de um feitor, cortava lenha para a estrada de ferro", conforme o relato do delegado de polícia de Penápolis. (Esse km 281 é o local exato onde hoje se encontra o Instituto Noroestino do Trabalho, Educação e Cultura, o IN- TEC) Os indios mataram seis trabalhadores, os demais fugiram. Os corpos foram resgatados e enviados de Araçatuba para Penápolis "sum vagão, sem caixão, apenas enrolados em sacos de estopa, com as cabeças para fora, onde foram enterrados. E iso causou forte emoção às crianças que foram, por curiosidade, ver a saida do trem", conforme o relado de dona Angelina Viol Trevisan à historiadora Odete Costa Bodstein, transcrito no seu livro História de Araçatuba, em parceria com o professor Célio Pinheiro.

Antes da "pacificação" pois quando eles se "acalmaram" praticamente já não existiam como nação pode-se dizer que o caingangues foram massacrados, principalmente em assaltos cometidos pelo coronel Sanches Figueiredo e seu gento, o coronel Anibal, que invadiam as aldeias, matavam crianças e mulheres, capturavam os homens e os usavam como escravos. Foi o marechal Rondon quem mandou as primeiras equi pes de pacificadores para acalmar e proteger os índios na nossa região. Mas sobraram poucos caingangues.

Além dos indios, lutas sangrentas pela terra e as dificuldades de enfrentar o sertão virgem, os ho mens sofriam com a inclemência do clima e doenças como a malária, leshmaniose (também conhecida como "ferida braba"), febre tifóide, hepatite e mal de Chagas. Muita gente morria de apendicite, que o povo chamava de "nó nas tripas". Os pernilongos eram um flagelo invencivel.

Houve ainda a epidemia de gripe espanhola, em 1918. A gripe, que se espalhou pelo mundo e ma tou milhares de brasileiros, também atingiu Araçatuba.

Em meio a isso, os conflitos se tornavam inevitáveis enquanto os trilhos da Noroeste avançavam pelas terras indigenas. As autoridades não planejaram um contato pacifico com os caingangues. E eles, naturalmente, sentiam-se invadidos e reagiam. Os pioneiros e os trabalhadores não recuavam e respon diam com violência e preconceito. Nesse "faroeste" deviam entender que "indio bom é indio morto". E foi o que aconteceu.

Fonte Araçatua 100 Anos de História  Unisalesiano 

Segunda Estação Ferrousaria de Araçatuba